“Morreu, Vae a dormir, vae a sonhar... Deixal-a!
(Fallae baixinho: agora mesmo se ficou...)”
António Nobre
Seria talvez ao crepúsculo imenso,
Um monge vestindo brocado e cetim,
Diria sentenças cristãs em latim,
À Lua, à necrópole, a todos no incenso...
Em negras mantilhas, em cruzes “em fim”,
Mulheres fiéis chorarão tão intenso
Que até multidões, as de orgulho pretenso,
Em dor, orarão ao bom corvo por mim...
Será tão bonito! Descendo o caixão...
Em santo silêncio, em silêncio do céu,
Ao vento sangrando... Será tão bonito!
Um jovem rapaz lagrimando em conflito,
Nas águas que formam-lhe um lúgubre véu,
Trará um chapéu ao gentil coração...
NOTAS:
1 - Texto integrante da Antologia Necrópole (2022), organizada por James Gallagher Junior da Editora Carnage. Compre AQUI.
2 - Metro adotado: Galope à beira mar (hendecassílabo 2a, 5a, 8a e 11a).
3 - Tela: Edward Okuń, "Cztery struny skrzypiec", 1914
4 - O soneto Inglês III também se encontra na referida antologia